Lula, Haddad e o dilema fiscal: quem perde mais?

Isenção de imposto ameaça equilíbrio econômico

Por William Saliba

A política econômica brasileira está mais uma vez no centro de um ime político. Na tarde desta quarta-feira (27), Fernando Haddad, ministro da Fazenda, chegou ao Palácio do Planalto com a missão quase impossível de convencer o presidente Lula a adiar a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O pano de fundo dessa discussão não poderia ser mais sensível: um mercado financeiro em ebulição, aguardando medidas concretas de ajuste fiscal, e um governo tentando equilibrar interesses eleitorais e fiscais.



A decisão de anunciar a isenção no mesmo pronunciamento do pacote de corte de gastos demonstra uma falta de alinhamento estratégico entre o Ministério da Fazenda e a Presidência da República. O slogan “Brasil Mais Forte. Governo Eficiente, País Justo” até tenta reforçar uma mensagem de responsabilidade, mas o mercado reagiu com ceticismo. O dólar disparou, fechando a R$ 5,91, enquanto o anúncio gerava mais dúvidas do que confiança.

A fonte de tensão é evidente. De um lado, Haddad e sua equipe buscam transmitir credibilidade a um governo que prometeu responsabilidade fiscal. Do outro, Lula, ao priorizar uma medida de apelo popular, corre o risco de ofuscar as medidas de controle de despesas e enfraquecer sua capacidade de articulação no Congresso. Como destacou uma fonte anônima do governo, o impacto da isenção pode dificultar ainda mais a aprovação do pacote fiscal amplo, essencial para estabilizar as contas públicas.

O contexto econômico não favorece deslizes. A inflação global desacelerou, mas os Estados Unidos mantêm uma política monetária restritiva, tornando ativos brasileiros menos atrativos. Internamente, a dívida pública continua em alta, e a percepção de risco sobre o Brasil aumenta quando medidas fiscais são vistas como incoerentes.

Nesse cenário, a pergunta que ecoa é: qual a real prioridade do governo? Se o objetivo é reconstruir a confiança no Brasil, decisões de curto prazo com objetivos eleitorais precisam ser repensadas. A isenção de impostos tem, sim, apelo popular, mas sem um ajuste fiscal robusto que sustente as contas públicas, pode se tornar um tiro no pé, agravando a instabilidade e afastando investimentos.

A solução, ou ao menos o caminho para uma resposta, está no diálogo. Lula e Haddad precisam alinhar seus discursos e, mais importante, suas ações. É preciso que o governo e uma mensagem clara: o compromisso com a responsabilidade fiscal não será uma promessa vazia. Sem isso, o Brasil seguirá em um perigoso limbo econômico, onde boas intenções sucumbem à falta de planejamento e unidade.

O desafio é enorme, mas também inevitável. Como Haddad dirá em cadeia nacional, o Brasil precisa de um governo eficiente e um país justo. Mas eficiência e justiça fiscal exigem mais do que slogans. Elas pedem decisões corajosas, ainda que impopulares no curto prazo, mas que pavimentem o caminho para um crescimento sustentável. Se Lula e Haddad encontrarem esse equilíbrio, o país pode começar a reconstruir a confiança de que tanto precisa. Caso contrário, as consequências poderão custar mais do que qualquer pacote de isenção pode aliviar.

Quem vencerá esta queda de braço?

Leia também

premio nippon
Are you sure want to unlock this post?
Unlock left : 0
Are you sure want to cancel subscription?